A televisão brasileira tem mostrado ao longo
de sua existência a grande capacidade de quebrar
tabus. Seja em novelas, séries, filmes, jornais ou,
até mesmo, em programas de entretenimento.
Os telespectadores passaram a assistir,
tolerar e, em seguida, amar o que é transmitido.
E foi assim com o surgimento do “Big Brother
Brasil”. A resistência era grande no início, mas
o programa alcançou tanta popularidade que já
está em sua 11ª edição.
Brigas, confusões, sexo, traições... Isso tudo
o programa exibiu em seus 10 anos, porém ainda
faltava um personagem nessa história toda,
que poderia causar muita polêmica. E foi
exatamente isso que o diretor J. B. Oliveira,
o Boninho, trouxe em 2011. Ariadna, uma
transexual de tirar o fôlego, foi escalada
para ser a “protagonista” do “BBB 11”.
Ela era a grande aposta do programa!
Mas, como todos nós sabemos, o
público eliminou a cabeleireira logo na
primeiro “Paredão”. Até que Ariadna conseguiu
“causar” em uma semana dentro da casa
mais vigiada do Brasil. Primeiramente, a
morena optou por não contar aos outros
participantes sobre a mudança de sexo e
mostrou seu jeito atirado para todos os
homens da casa, distribuindo selinhos e abraços.
Em seguida, a sister revelou que foi garota
de programa na Itália. Chorou copiosamente
no colo das outras meninas do “BBB 11” e disse
que não quer voltar mais para essa vida.
Além disso, ela contou diversas vezes da maneira
como era tratada pela família. A mãe e o pai
da moça a colocaram para fora de casa aos 14
anos devido à sua opção sexual, mas essa
parte ela não revelou para confinados.
Mas afinal, um história de vida sofrida não
é o ingrediente para ser campeão do programa?
Poderia até ser, mas se Ariadna não tivesse
escondido dos brothers sobre sua transexualidade?
Será que foi isso que a tirou do “BBB 11”? Ou foi
preconceito do público?
O transexualismo se caracteriza por a pessoa
não aceitar o seu sexo genético/biológico/
anatômico, se sentindo como pertencente
ao outro sexo. Nem todo o transexual
é homossexual (lembrando que ser homosexual
significa ter desejo sexual por pessoas do mesmo
sexo) e há muitos transexuais que inclusive,
não tem vida sexual alguma, até porque os
aspectos relativos a sua sexualidade
causam muito desconforto emocional.
Segundo a Organização Mundial da Saúde,
o transexualismo ou transtorno de
identidade de gênero é definido como:
"Um desejo de viver e ser aceito como um
membro do sexo oposto, usualmente acompanhado
por uma sensação de desconforto ou impropriedade
de seu próprio sexo anatômico e um desejo de se submeter a tratamento hormonal e cirurgia para tornar seu corpo tão congruente quanto possível
com o sexo preferido.
Para que esse diagnóstico seja feito, a
identidade transexual deve ter estado
presente persistentemente por pelo menos
2 anos e não deve ser um sintoma de um outro transtorno mental, tal como esquizofrenia,
nem estar associada a qualquer anormalidade intersexual, genética ou do cromossomo
sexual."
Uma vez confirmada a condição de transexualismo
a lei assegura a pessoa a possibilidade de,
se ela assim desejar, fazer a cirurgia chamada
cirurgia de transgenitalização ou de redesignação
sexual. No Brasil a cirurgia é realizada
exclusivamente em hospitais universitários
ou públicos, para fins de pesquisa e de forma
gratuita, em maiores de 21 anos, que já tem
ao menos 2 anos de vivência como o sexo
oposto e com acompanhamento psicológico
durante todo processo.
Além de todas as questões biológicas a serem
enfrentadas, a pessoa que é transexual tem
ainda que lidar com a mais dura de
todas as provas: o preconceito da sociedade.
Ninguém "escolhe" ser transexual, assim
como ninguém escolhe ser homosexual ou
heterosexual. Não é uma questão de escolha
ou doença a ser curada. É uma condição
onde o corpo físico não é compatível com
a identidade daquele indivíduo, questão
esta que pode ser solucionada, ao menos
em parte, com as técnicas cirúrgicas
e de reposição hormonal que são aperfeiçoadas
a cada dia.
Mas mais que a ciência avançar,
nós, seres humanos, precisamos evoluir.
Evoluir para aceitar o diferente, para
aprendermos a nos colocar no lugar do
outro (já imaginou por quanto sofrimento
estas moças já passaram por terem
nascido com o "sexo trocado"?),
para não julgar sem conhecer.
Pense nisto o mundo só melhora quando
nós mesmas somos parte da mudança.